sábado, 21 de agosto de 2010

FRAGMENTOS DE UMA VIDA QUE NÃO VIVI...


DO DESEJO




A pretexto de discutirmos os meandros das interpretações poéticas convidei a “Bela Dama” para um passeio matinal em um lindo parque no centro da velha cidade, matreiro que sou e homem experimentado nas artimanhas do jogo da sedução, levei comigo um apetrecho fotográfico, uma daquelas máquinas modernas que capturam imagens, e enquanto singelamente passeávamos lado a lado a passos curtos por entre a orquídeas, eu planejava no silêncio dos meus olhos como trairia a confiança da respeitosa donzela e a faria cúmplice dos meus caprichos eróticos. Por fim, após passarmos Rumbolt por um crivo existencial fatalista, deparamo-nos com um formoso canteiro de gira-sóis, enormes gira-sóis que se inclinavam a procura dos últimos raios de sol daquele esplendoroso entardecer crepuscular;

- Vai ser aqui! – disse a mim mesmo – Vai ser aqui neste banco de concreto!

Convidei-a para sentarmos ali mesmo, naquele banco de jardim que ficava em frente ao canteiro de gira-sóis, mal sentamos e logo arrematei:

- Que lindo lugar, e se me permite a ousadia, acho que ele combina perfeitamente com vossa beleza!

A Dama sempre séria, que reagia com discrição aos meus bobos galanteios, logo fez rubra a face, e com seus olhos de Capitu mostrou-me seu consentimento.

De máquina à mão, tomei a distância de 2 metros e fiz três registros dela na mesma posição, sentada naquele banco de concreto, pedi delicadamente que se inclinasse um pouco para frente, de modo a expor seu busto, em seguida me aproximei e fiquei de joelhos a sua frente, perto do seu rosto o suficiente para sentir o frescor do seu hálito, fitei aqueles lindos e misteriosos olhos de ressaca, ela ficou séria e eu disse:

- A senhora tem uma beleza tão exótica, que não deveria ficar assim tão recatada diante do registro de suas imagens! – alternando o meu olhar entre seus olhos e lábios.

Da parte dela não houve de imediato uma reação verbal, fez-se silêncio em sua boca, e em seguida mordeu o lábio inferior como uma adolescente desconcertada que deseja provar do desconhecido, mas que atem pelo medo:

- Então o senhor deve guiar-me nesta sessão, faça de mim seu modelo e use- me como lhe for proveitoso! – falou a mulher que mais desejei em minha vida. E apesar da ansiedade que quase me explodira o coração, consegui ter controle o suficiente para que minhas mãos não ficassem trêmulas, demonstrei uma fingida segurança até mesmo quando com sua aprovação enfiei delicadamente minhas mãos por dentro de sua blusa de tecido fino para desatar-lhe o sutiã e libertar-lhes os seios, que me encheram os olhos ao vê-los por sua blusa de tecido fino e transparente, e me assombrou ainda mais por não resistir ao meu ato desvairado de aventurar-me por baixo de suas saias, deixando que minhas duas mãos corressem suas coxas até alcançar sua confortável calcinha de algodão, a qual fiz deslizar por suas largas e sedutoras ancas, sentindo toda a maciez e textura de sua fina pele de pêssego, delicada e quente, após deslizá-la por todo o seu roliço par de pernas, retirei-a com carinho e delicadeza, passando-a por seus pequenos e delicados pés, um depois do outro, a dobrei e guardei-a com respeito em meu bolso, levantei o rosto e vi que a Bela Dama sorria com o canto dos lábios, um sorriso maroto de menina levada, característico daquelas que cometem pequenos delitos da carne, a Dama havia se convertido em uma diabinha.

Levantei-me e sem dar-lhe as costas afastei-me dela a uns 4 metros, queria que desta vez o canteiro de gira-sóis que estava as suas costas fosse o fundo perfeito daquela sedutora e provocante imagem. Já nas primeiras imagens capturadas via-se perfeitamente que a recatada Dama havia desaparecido e agora por sua vez, a diabinha cedia o lugar a uma exuberante e exibida mulher, que sem o menor traço de pudor fez poses, caras e bocas, deixou por vezes parte do busto a amostra dando a perfeita idéia do quão firmes eram, levantou a saia acima dos joelhos para que a luz rósea da tarde os iluminasse, depois as levantou mais ainda, presenteando-me com a visão de suas coxas, que mais parecia dois montes a guardar um desfiladeiro cujo tesouro que escondia seria a glória para o mais exigente dos conquistadores.

A sessão continuo até o findar da luz do dia, foram 25 imagens que eternizavam a face mais obscura e bela daquela Dama da mais alta sociedade da Veneza dos Trópicos, após a captura da última imagem, aproximei-me dela e delicadamente lambi seu rosto, o ralo filete de suor que dele escorria, tinha um saboroso gosto agre-doce, então sussurrei em seu ouvido:

- Acabou querida!

Ela nada disse, levantou-se e voltou a aprisionar seus seios com o sutiã, depois me estendeu uma das mãos, entendi perfeitamente o gesto e devolvi-lhe a peça intima que estava em bolso, ela a vestiu ali mesmo, tão graciosamente que fiquei atônito ao descobrir que tal visão, a de uma mulher vestindo uma calcinha, poderia ter um forte simbolismo erótico, ao me perceber desconcertado ela sorriu, ofereceu-me o braço e saímos calmamente caminhando da mesma forma que chegamos.

Naquela noite, após deixar a Bela Dama em sua residência, sentei-me a frente da lareira e com uma taça de vinho tinto revi aquelas imagens na máquina, observei cada detalhe, as núncias da sua pele, seu sorriso maroto e malicioso, o jeito dos cabelos e até como a luz da tarde a deixara com uma face dourada, meu apetite voraz pelo exótico logo se transformou em uma profunda amargura, pois a Bela Dama pertencia de corpo e alma ao Conde de São José, a ele havia jurado e sacramentado seu amor, eu poderia ter-lhe o corpo, entretanto jamais a alma...

Triste sou eu, porca miséria é minha vida! Refestelo-me na imundice da carne e sigo com o coração vazio!

Como um caçador, planejo, atrai-o a vítima e sugo-lhe o suor do orgasmo...

Deleito-me em seus suspiros e tenho meu clímax no revirar dos seus olhos...

Amo-lhe a pele e as formas de sua carne... Apaixono-me no doce de sua saliva!

Mas sou um condenado e desconheço a comunhão do espírito, descobrindo por fim o vazio de minha existência...

Sim! Ao fogo com está máquina maldita que guarda a imagem do desejo...

Sim! Ao fogo com estas mãos que guardam o cheiro da tua intimidade...

Sim! Ao fogo o meu corpo amaldiçoado pelo desejo incontrolável de ti...

Sim... Ao fogo o meu ser que a de arder como mil sóis e acabar como cinzas jogadas em um canteiro de gira-sóis!

FIM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário